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Motivações Políticas e Econômicas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e Dificuldades para sua Efetiva Implementação (página 3)

Em vista dos possíveis ganhos econômicos decorrentes da mudança ortográfica, decorrente da reedição de diversos livros, fazemos breve análise de duas ferramentas virtuais desenvolvidas por instituições ligadas direta ou indiretamente ao governo português. A ferramenta Flip, desenvolvida pela empresa Priberam, desde o ano de 1995, em parceria com o Instituto Camões, é oferecida nas modalidades online, com conexão à internet, e offline. Quando conectado, o usuário deverá optar pela norma brasileira ou portuguesa, anterior ou após o AOLP, na primeira vez em que acessar o sítio eletrônico. Essa opção por si só é capaz de revelar que, ao menos em um primeiro momento, o acordo não diminuiu, mas ampliou as possibilidades de normas e grafias possíveis para uma mesma palavra. Caso houvesse somente uma norma em vigência após o lançamento da nova ortografia, seria interessante se oferecerem as opções do sítio da seguinte forma: caso o usuário optasse por utilizar a norma anterior ao Acordo, duas possibilidades se apresentariam; caso optasse pela norma do AOLP, somente uma hipótese haveria.

Os recursos da empresa Priberam, disponíveis mediante o pagamento de 60 euros, para se tornarem acessíveis independentemente de conexão à internet, são as seguintes: corretor de erros ortográficos, dicionários técnicos, análise gramatical, dicionário de sinônimos, indicação de divisão silábica, conjugação de verbos, todos com a seleção de ortografia antes ou depois do AOLP, com a ortografia brasileira ou portuguesa, auxílio na tradução para espanhol, francês ou inglês, ou a partir deles, e compatibilização dessas ferramentas com vários programas de edição de texto. Ressaltamos que a empresa pretende oferecer no futuro, de forma adicional aos recursos já disponíveis, "léxicos pertencentes às subortografias do português das variedades africanas" (FIGUEIRA, et al, [2009], p. 14) bem como o de Macau, ao contrário do que se esperava, em virtude do suposto aspecto unificador do AOLP.

Igualmente beneficiada pela nova ortografia, a Porto Editora também desenvolveu seu próprio conversor ortográfico, disponível no sítio eletrônico da empresa. A ferramenta, tal qual o recurso da Priberam, se propõe a verter texto em língua portuguesa da ortografia antiga para a nova norma, de forma gratuita, bem como tirar dúvidas sobre a nova ortografia. A editora ainda vende dicionários e conversores eletrônicos para diversas plataformas e reeditou muitas obras já lançadas, nos moldes da nova ortografia. É evidente que qualquer editora ou livraria pode se beneficiar da reedição de suas obras. Contudo, essa não aparenta ter sido uma preocupação dos governos signatários do acordo.

Do ponto de vista político, aumentar o prestígio e a difusão internacional da Língua Portuguesa se tornou um dos argumentos utilizados pelo linguista brasileiro Carlos Alberto Faraco. O estudioso manifesta que a dupla ortografia da língua dificulta a sua difusão internacional, pois "os testes de proficiência têm de ser duplicados" (FARACO, p. 2). Atualmente os testes citados pelo professor são aplicados pelo governo português por meio do Instituto Camões, nos EUA, Canadá, Venezuela e outros países europeus e africanos (disponível no sítio eletrônico do Instituto Camões). O governo brasileiro aplica suas avaliações por meio do INEP, em diversos países da América, Europa, Ásia e África (disponível no portal do Instituto).

A sugestão do professor Faraco era que a certificação de proficiência se unificasse, a partir do momento da aprovação do acordo. De maneira ingênua ou contraditória, a suposição de que a simples criação de norma ortográfica única resolveria a dupla certificação é um grave equívoco, pois nenhuma prova aplicada em um país tem automaticamente validade em outro, a não ser por força de tratado anteriormente assinado. Ora, se o acordo prévio é necessário para a validação automática de uma certificação no outro país, esse ato já poderia ter sido há muito providenciado, independentemente das mudanças ortográficas.

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Como referenciar: "Motivações Políticas e Econômicas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e Dificuldades para sua Efetiva Implementação" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 16/05/2024 às 02:52. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/motivacoes_politicas/index.php?pagina=2