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Motivações Políticas e Econômicas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e Dificuldades para sua Efetiva Implementação (página 2)

A redação presunçosa do anexo do acordo ignora flagrantemente e de forma absoluta a riqueza linguística da diversidade regional, criando embasamento legal para preconceitos a tudo o que há e não se encaixa na nova norma imposta. Para Emiliano, em crítica ao acordo, "importa reconhecer e aceitar a diversidade das diversas lusofonias como património de uma comunidade de estados soberanos unidos por uma raiz histórica comum, e não estigmatizá-los como factor desagregador" (EMILIANO, 2008, p. 5).

Dessa forma, a reanálise do texto da doutora Assalim nos conduz inexoravelmente a conclusão diversa da pesquisadora. Nos parece mais que apoiar o acordo é "lutar contra o sentido e a marcha da História, é afirmar uma posição retrógrada face ao desfecho natural da desagregação política de uma comunidade constituída por regiões dispersas por cinco continentes, cada uma delas caracterizada por uma dinâmica própria e dotada de características étnicas, sociais e linguísticas próprias" (idem, p. 6). A escritora também ignora que "cada vez que se faz uma reforma, ortográfica ou gramatical, prejudica-se a continuidade do idioma, visto que a língua deve mudar naturalmente, sem imposições" (CAVALCANTE, et al, 2008, p. 7).

O texto desses e outros autores, ao negligenciarem o caráter técnico da mudança, se tornam cientificamente vulneráveis e repletos de contradições. Uma das inexatidões citadas pela filóloga está no seguinte trecho, que teria, a priori, intenção de provar a eficácia do AOLP: "O leitor pode não concordar comigo, mas certamente entendeu o que vai escrito neste livro, mesmo tendo sido totalmente escrito de acordo com as novas normas" (ASSALIM, op. cit, p. 29). O próprio trecho citado, extraído do livro da defensora do acordo, seria graficamente escrito da mesma forma ates e depois da reforma, de maneira que tal argumento conduz a conclusões equivocadas e induz o leitor ao erro.

Em consonância com a determinação portuguesa, diversos órgãos públicos do país, tal como o Instituto Camões, começaram a adotar recentemente o AOLP. Sua presidente, Ana Paula Laborinho louva a parceria firmada entre o instituto português e a empresa Priberam, ao notar que ela "está a contribuir para uma mais rápida e eficaz aplicação e dinamização do AOLP, que constitui um importante instrumento de política de internacionalização do português e da afirmação como língua global" (PRIBERAM..., 2014).

A  Academia Brasileira de Letras, tradicional defensora do acordo e uma das maiores beneficiadas economicamente por ele (devido às reedições das obras dos autores membros da instituição - inclusive o Sr. Evanildo Bechara, o qual é o principal ponto de articulação política dentro da academia brasileira), defende por meio da edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, já citado neste artigo, que diversos benefícios decorreriam da unificação ortográfica do português, tais como:

Facilita a difusão da língua e dos seus textos escritos pelo mundo, auxilia o ensino e a aprendizagem do idioma, melhora o comércio dos livros editados em português e, portanto, é um fator de difusão da cultura dos países que têm como oficial o nosso idioma." (ABL, ibidem, p. 14).

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Como referenciar: "Motivações Políticas e Econômicas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e Dificuldades para sua Efetiva Implementação" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 29/04/2024 às 17:06. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/motivacoes_politicas/index.php?pagina=1