A Formação Humana na Educação Ateniense
Autor: Rafael Botelho
Data: 26/12/2011
INTRODUÇÃO
Quando sondamos os primórdios da educação verificamos que certas culturas possuem um leque de influências sobre a contemporaneidade. Mas, uma delas, em especial, se destaca: a cultura grega. Não seria incorreto afirmar que a riqueza do pensamento grego só se expandiu com consistência e longo alcance após surgimento do helenísmo, durante o imenso império de Alexandre Magno, onde diversas culturas se fundiram e se entrelaçaram sob um único governo. Entretanto, a pureza da erudição grega pode ser vista como o mais profundo elemento influente na estrutura humana global, isto é, a Grécia Antiga é a base do mundo atual e todo conhecimento que dela emana faz parte de nosso cotidiano.
Partindo da ideia descrita acima, vamos apresentar, nesta pesquisa, uma visão conceitual da influência educacional grega no ensino da atualidade. O sistema, as relações sociais, o contexto histórico serão abordados de maneira a definir a aprendizagem na Grécia Antiga.
Antes, porém, considerando a vastidão do conhecimento grego, é necessário afunilar o assunto a ser apresentado. Na Antiguidade grega, duas cidades-estado possuíam destaque inquestionável perante as outras; eram elas Atenas e Esparta, ambas consideradas ''berços'' de instituições hoje primordiais na sociedade mundial. Esta última, é conhecida como uma cidade essencialmente militar, de potente educação física e ensino rígido, conciso, limitado e imutável. Já em Atenas, a educação era distinta, possuía enfoque em política, filosofia, retórica e dialética, sendo, portanto, genuinamente intelectual e incentivadora da criticidade e da evolução do cidadão. Dados tais aspectos, definimos Atenas como elemento da pesquisa elaborada a seguir, pois sua educação visa a completa formação humana, obviamente citada no título do trabalho.
Para estabelecer a base científica deste estudo, nos reportamos aos seguintes autores: ARANHA (2008), CHÂTEAU (1978), FARIA (1994), JAEGER (1966), KIERKEGAARD (1991).
CAPÍTULO I
1 Elementos da ''Paidéia''
Paidéia, segundo Jaeger (1966), era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia Antiga. Inicialmente, a palavra paidéia (de paidos - criança) significava simplesmente "criação de meninos". Mas este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu. O termo também significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Uma vez que o governo próprio era muito valorizado pelos gregos, a Paidéia combinava ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. O objetivo não era ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade e nobreza. Paidéia também pode ser encarada como o legado deixado de uma geração para outra na sociedade.
1.1 Herança cultural grega
Somos herdeiros dos gregos e fiéis depositários do seu legado cultural; na sua atividade racional e nos seus ideais se encontram algumas das nossas raízes culturais mais profundas. Nossa cultura europeia ocidental é o produto do cruzamento de algumas linhas de força essenciais, como: a inteligência grega, o direito romano e a religião cristã. Política, filosofia e retórica são elementos fundamentais entre os saberes da atualidade e são, de modo genuíno e original, criações dos pensadores gregos.
1.2 A política
A palavra tem origem nos tempos em que os gregos estavam organizados em cidades-estado, denominadas "polis", nome do qual se derivaram palavras como "politiké" (política em geral) e "politikós" (dos cidadãos, pertencente aos cidadãos), que estenderam-se ao latim "politicus" e chegaram às línguas européias modernas através do francês "politique" que, em 1265 já era definida nesse idioma como "ciência do governo dos Estados". O termo é derivado da palavra grega politeía, que indicava todos os procedimentos relativos à polis, e à sociedade, comunidade, coletividade, bem como outras definições referentes à vida urbana.
1.3 A filosofia
O termo filosofia nasceu na língua grega, ( philos - amor, admiração + sophia - sabedoria) , e significa ''aquele que ama a sabedoria'', e é definida como a vera investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo e ao homem. Apesar de surgir como oposição à crença nos deuses e à religião, a filosofia, segundo Platão e Aristóteles, constituiu o mito como matéria-prima de sua reflexão, pois com o elemento mítico, ela se propunha a revelar que a pretensa separação entre esses dois modos do homem interpretar a realidade não é tão nítida como aparentemente se julga.