Você está em Artigos

A Formação Humana na Educação Ateniense (página 2)

1.4 A retórica

A retórica é a técnica, ou a arte, de convencer o interlocutor através da oratória, ou outros meios de comunicação. Classicamente, o discurso no qual se aplica a retórica é verbal, mas há também ? e com muita relevância ? o discurso escrito e o discurso visual. Para os gregos, a retórica era a principal vertente do exercício da política, pois, com ela, o cidadão expunha suas teses relativas ao cotidiano da polis e emana seu poder de persuasão, por meio da eloquencia; neste exato momento, na oratória, vê-se nitidamente os níveis sociais que  constituem a sociedade grega, pois quem embutisse no ouvinte sua linha de raciocínio mais convincente, teria mais prestígio e privilégios perante a comunidade.

1.5 A dialética

Dialética advem de umtermo grego e, na  Grécia Antgia, era a arte do diálogo, da contraposição e contradição de idéias que leva a outras idéias. Segundo Platão, ela era o método mais eficaz de aproximação entre as idéias particulares e as idéias universais ou puras, sendo até considerada um sinônimo da filosofia. A dialética se baseava na ideia de que nenhum conceito é definitivo ou supremo, mas existem três estágios de discussão do conhecimento: tese, onde há a construção conceitual; a antítese, na qual se contrapõe a ideia inicial; e síntese, que une as duas concepções em uma só. Considerando que a síntese elaborada também é uma tese, o ciclo de debate sobre o assunto em questão, qualquer que seja, é infinito.

2 Contexto histórico

Analisando as práticas e os elementos que compõem a Paidéia, verificamos que a educação estava estabelecida sob um veú de interesse social por parte da minoria detentora do poder público. Portanto, se faz de grande importância o reconhecimento do momento histórico que permeava Atenas e influenciou o sistema educacional grego. 

2.1 O século de Péricles 
 

Designa-se como século de Péricles o período histórico compreendido entre o cerco de Samos por parte dos atenienses (439 a. C.) e a derrota dos gregos na Batalha de Queroneia, frente o exército macedônio de Filipe II (338 a. C.). No ápice da era clássica da Grécia, Péricles foi um estratego, político e orador ateniense que soube rodear-se das personalidades mais destacadas da época, homens que sobressaíam na política, filosofia, arquitetura, escultura, história e estratégia. Fomentou as artes e as letras e deu a Atenas um esplendor que não se voltaria a repetir ao longo da História. Realizou também grandes obras públicas e melhorou a qualidade de vida dos cidadãos. Por isso é que importante figura legou o seu nome ao "século de ouro ateniense", o apogeu da Grécia Antiga. Em seu governo, Pireu, o porto que servia à Atenas, foi melhorado e seu movimento tornou-se o maior de toda Grécia, além disso, ampliou a esquadra com construção de grandes navios, visando a defesa da cidade. Ilustres homens atenienses perpetuaram seus nomes durante o poderio de Péricles; entre eles, podemos destacar Sócrates, o primeiro grande filósofo, e Heródoto, o pioneiro entre os historiadores. Péricles ficou vastamente conhecido por basear sua carreira política e social nos elementos primordiais do que surgia como Paidéia; pois além de conhecer significativamente os preceitos de  política, filosofia, arquitetura, escultura, história e estratégia, fixou sua autoridade e estabelecendo-se com sua persuasão por meio da retórica, algo que os próprios atenienses consideravam como arte.

CAPÍTULO II

1  Os grandes filósofos e a educação formal

Durante o apogeu ateniense, o saber filosófico ganhou altos patamares e solidificou-se como a fonte de maior credibilidade e detentora de novos adeptos em todo território grego. As palestras na ágora grega, debates em assembleias e conselhos políticos de Atenas passaram a ser tratados como uma nova vertente do ensino, isto é, os filósofos obtiveram a graduação de mestres, pois manipulavam e transmitiam os ensinamentos. Assim, nascia a educação formal, elaborada pelas poderosas famílias para a manutenção do domínio sócio-econômico sobre as demais classes. Dentre  as célebres figuras atuantes no contexto histórico e social da Paideia, serão destacadas três personalidades e uma polêmica corrente filosófica.

1.1 A escola sofista

Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas discursos para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam "melhorar" seus discípulos, ou, em outras palavras, que a ''virtude'' seria passível de ser ensinada. Eles foram os primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes para efetuar suas defesas, dada sua alta capacidade de argumentação. São também considerados por muitos os guardiões da democracia na antiguidade, na medida em aceitavam a relatividade da verdade.

O termo que nomeia a referida corrente filósofica não significa puramente uma concepção de falsidade, conforme nos reportamos hoje à palavra sofisma; a definição não deixa de ser a origem da ideia que nos remete à mentira, mas ela está ligada mais linearmente à persuasão, poder de convencimento, ou seja, ao resultado e alcance da retórica e da oratória. Os sofistas são os primeiros a romperem com a busca pré-socrática por uma unidade originária (a  physis), iniciada com Tales de Mileto e finalizada em Demócrito de Abdera, que embora tenha falecido pouco tempo depois de Sócrates, tem seu pensamento inserido dentro da filosofia pré-socrática. A principal doutrina sofística pode ser expressa pela máxima de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas". Tal máxima expressa o sentido de que não é o ser humano quem tem de se moldar a padrões externos a si, que sejam impostos por qualquer coisa que não seja o próprio ser humano, e sim o próprio ser humano deve moldar-se segundo a sua liberdade.


1.2 Sócrates: a ironia e o parto das ideias

Nascido e criado em Atenas, Sócrates foi um dos mais importantes expoentes e um dos fundadores da Filosofia Ocidental. As fontes mais importantes sobre ele emanam de Platão, Xenofonte e Aristóteles, existindo, inclusive, historiadores que defendam a teoria de que o filósofo seria um personagem platônico, pois não foi localizado nenhum registro escrito do próprio Sócrates. Os diálogos de Platão o retratam como mestre que se recusava a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, mas se escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Por meio deu método dotado de ironia, criou o chamado parto das idéias, ou Maiêutica (que possui o mesmo significado de obstetrícia, e está vinculada aos elementos da reprodução da mulher), pela qual seu nome se destacaria historicamente.

Anterior   Próxima

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "A Formação Humana na Educação Ateniense" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 17/05/2024 às 08:05. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/formacaohumana/index.php?pagina=1