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A Aprendizagem Escolar Diante do Déficit de Atenção (página 3)


CAPÍTULO II

I- O PAPEL DA ESCOLA FRENTE O PROCESSO DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO

A escola possui um papel importantíssimo para a erradicação da exclusão presente nela mesma, e necessita estar em constante processo de modificação da realidade presente, pois desde os seus primórdios, acaba por evidenciar as diferenças e excluir o diferente, o menos favorecido. De acordo com Ariés (1983), durante vários séculos a organização escolar privilegiou e permitiu acesso a uma educação escolar de qualidade, apenas para as famílias que se encontravam em melhores condições financeiras e em um nível elevado da sociedade.

Dessa forma, podemos afirmar que o processo de inclusão escolar não é um desafio atual, mas sim, construído historicamente, e que aos poucos, através de muitas lutas e dificuldades, busca-se transformar tal realidade.
Criada para dar educação básica a todos e à qual todos deveriam ter acesso, a escola pública tradicional desenvolveu práticas e valores que progressivamente contribuíram para acentuar as diferenças entre os alunos e que colocaram precocemente fora da corrida da aquisição de competência largos estratos da população escolar. Assim, o insucesso escolar, o abandono da escola, os problemas de disciplina, a rigidez dos currículos, etc., fizeram com que a escola que deveria integrar e acolher todos, fosse, ela própria, um instrumento de seleção que, em muitos casos, acentuava as diferenças culturais e de características e capacidades pessoais de que os alunos eram portadores (RODRIGUES, 2001, p. 24).
A inclusão é um processo que beneficia a todos os envolvidos no processo do conhecimento, ela favorece os que possuem necessidades especiais, pelo fato destes terem acesso ao ensino regular e exercerem efetivamente o direito da educação, favorece também aos demais alunos, que não possuem necessidades especiais, pois através desse convívio, aprender a respeitar e valorizar as diferenças, e também favorece aos professores, pois, os mesmos, aperfeiçoam suas experiências e conhecimentos.

Cabe a escola também realizar mudanças no seu currículo, formular um currículo estruturado e de acordo com a realidade que a escola vivencia buscando a individualização do ensino para atender as diferentes necessidades dos alunos. Para Moreira (2009, p. 6) "[...] currículo é um conjunto de experiências pedagógicas organizadas e oferecidas aos alunos pela escola, experiências essas que se desdobram em torno do conhecimento".

Moreira defende a tese de que a matéria prima do currículo seja o conhecimento. De acordo com Gomes (2007) a diversidade deve ser tratada como eixo central na formulação do currículo da escola. Já segundo Roldão (2003) o conceito de diferenciação curricular  conserva a ideia da criação de um currículo construído de acordo com a realidade de onde os alunos estão inseridos, que contemple as diferenças presentes no espaço escolar, respeitando todos os grupos inseridos na escola:
O conceito de diferenciação curricular [...] terá de ser central e estruturante na reconceitualização da aprendizagem escolar, na medida em que a diversidade social se acentua - ou se reconhece e nomeia - e num tempo em que o grupo social homogêneo e estanque não é e nem será mais o definidor único das pertenças sociais dos alunos das escolas de hoje e do futuro (ROLDÃO, 2003, p. 162).
Sendo assim, é certo que a inclusão de fato aconteça, é imprescindível aceitar e reconhecer a escola com todas as diferenças que nela existem e desprender-se dos preconceitos relacionados ao diferente. Porém, isto não acontecerá se não se investir em capacitar os profissionais que nela atuam, se estes profissionais não forem capacitados a inclusão não passara de apenas utopia.

II- A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A INCLUSÃO

Ao que se refere à educação especial, em inclusão, não se deve deixar de questionar sobre a formação dos docentes no atendimento aos alunos deste perfil. Mesmo com todas as discussões sobre este assunto, ainda possuem uma formação inadequada, ambígua e defasada. Baseados na LDB pode-se afirmar que é de suma importância e de grande necessidade o envolvimento de uma equipe especializada, e que sejam oferecidos meios para constante capacitação, para que alcancemos acessibilidade e qualidade na modalidade da educação inclusiva.

Consta ainda na LDB (BRASIL, 1996), em no seu artigo 59, parágrafo I:
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.

Neste sentido, a valorização e formação do corpo docente ativo e empenhado na inclusão escolar, afirmando que esta condição exige uma dedicação e extremo comprometimento com outro, resultando em um aprendizado infinito e valorização de conceitos. A única forma de se proporcionar uma inclusão real e verdadeira é disponibilizando material didático e humano dedicado e capacitado para este fim, explicando, fazendo palestras, mostrando para a sociedade que aos alunos sejam eles deficientes físicos ou mentais tem os mesmos direitos que todos, direitos a estudar se alfabetizar de ter acesso e pessoas capacitadas a atendê-las.
A aplicação e o aperfeiçoamento da legislação são decisivos, porém insuficientes. Os direitos culturais e a criminalização da discriminação atendem aspectos referentes à proteção de pessoas e grupos pertencentes às minorias étnicas e culturais. Para contribuir nesse processo de superação da discriminação e de construção de uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo há de tratar do campo social, voltados para a formação de novos comportamentos, novos vínculos, em relação àqueles que historicamente foram alvos de injustiças, que se manifestam no cotidiano (BRASIL, 1996, página. 21).
Diante do excerto, vimos ainda que existam leis que garantam os direitos das pessoas com necessidades especiais, estas não são suficientes. Acarretando em muitos professores, como também uma grande parcela da sociedade se posiciona contra a inserção de alunos com necessidades especiais nas salas de aula, e não por preconceito ou insensibilidade, mas sim por terem consciência, da não preparação para receber estes alunos, da falta de informações, de apoio técnico e auxiliar e também de estruturas precárias.

Enquanto os currículos das escolas não estiverem preparados para atender de forma definitiva a esta demanda, apenas as garantias legais serão insuficientes. Atualmente muito já se foi feito em relação ao direito do ensino regular, em relação às legislações que garantem tal direito, porém pouco se avançou na formação adequada destes profissionais, para que possam atender a esta demanda oferecendo uma educação de qualidade a todos os envolvidos no processo do conhecimento. É necessário investir na formação inicial dos professores, para que este seja capaz de ofertar um ensino baseado nas diferenças sociais, culturais e pessoais existentes, capacitados para atender de forma abrangente a diversidade educacional presente nas escolas atuais.

De acordo com Mittler (2003, p. 20):
A inclusão depende do trabalho cotidiano dos professores na sala de aula e do seu sucesso em garantir que todas as crianças possam participar de cada ala e da vida da escola como um todo. Os professores por sua vez, necessitam trabalhar em escolas que sejam planejadas e administradas de acordo comas linhas inclusivas e que sejam apoiadas pelos governantes, pela comunidade local, pelas autoridades educacionais locais e acima de tudo pelos pais.
Para que o professor consiga executar as atividades necessárias, é preciso que ele esteja preparado para isto, que sua formação seja adequada e que esteja apto a lidar com as diferenças existentes nas salas de aula.

Rinaldi, Reali e Costa (2001 apud DENARI, 2007) nos dizem que a construção de ambientes educativos capazes de possibilitar processo de ensino-aprendizagem adequado a todos os alunos, depende da qualidade da prática pedagógica dos docentes.
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Como referenciar: "A Aprendizagem Escolar Diante do Déficit de Atenção" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/04/2024 às 00:42. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/deficitatencao/index.php?pagina=2