Universidade, Ciência e Desenvolvimento (página 2)
O Brasil ainda não aprendeu a transformar ciência em riqueza, permanecendo alheio ao fato de que na era pós-industrial o valor econômico de um produto está no valor a ele agregado pelo conhecimento, pela informação e pelas tecnologias que incorpora. Há vários fatores que distanciam ciência e setor produtivo no país, mas já existe um consenso de que as empresas brasileiras precisam investir mais em pesquisa e desenvolvimento.
Sim, as empresas podem e devem investir em suas próprias pesquisas ou em pesquisas acadêmicas direcionadas para o setor produtivo. Na Europa e nos Estados Unidos a participação do setor empresarial no financiamento de pesquisa acadêmica representa o dobro do que é verificado no Brasil (LEVY, 2007). De sua parte, a universidade pública não deve restringir o conhecimento ao mundo acadêmico. A transferência de conhecimento aplicado para a indústria é primordial para atender seu papel de extensão junto à comunidade.
As políticas governamentais voltadas para as universidades públicas, para a industrialização e o desenvolvimento científico devem estar muito bem articuladas, produzindo resultados que atendam os interesses nacionais de soberania e independência. Será cada vez mais sombrio o futuro de um país que dependa do conhecimento produzido no exterior.
NOTAS:
(1) A barreira do vestibular há de ceder lugar a um novo obstáculo, o preço das mensalidades. Só estudará em algumas das melhores instituições quem puder pagar, como já acontece em boa parte do mundo.
(2) Relativamente à questão da implantação tardia de uma universidade no Brasil, ver também a posição de Luiz Antonio Cunha em A Universidade Temporã.
(3) A maior parte das inovações científicas e tecnológicas desenvolvidas no Brasil sai dos laboratórios das universidades públicas, contrariamente ao restante do mundo globalizado. Nos EUA 13 % dos pesquisadores são docentes em universidades, enquanto 7% estão em institutos de pesquisa. 79% estão na empresas (SENAPESCHI, 2003).
REFERÊNCIAS:
CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1995.
COLLINS, Harry; PINCH, Trevor. O golem: o que você deveria saber sobre ciência. São Paulo: Unesp, 2000.
BILLI, Marcelo. Ciência avança no país, mas não gera riqueza. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 fev. 2006. Caderno Dinheiro, p.B1.
__________. Poucas empresas fazem inovação tecnológica. Folha de S. Paulo. São Paulo, 12 fev. 2006. Caderno Dinheiro, p.B6.
CUNHA, Luiz Antonio. A universidade temporã. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
DAGNINO, Renato. C&T para o desenvolvimento social virou prioridade. E agora? Jornal da Unicamp, Campinas, 16 set. 2007. Opinião, p.02.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LEVY, Clayton. Participação de empresas no financiamento de pesquisa acadêmica é tímida, conclui pesquisa. Jornal da Unicamp. Campinas, 07 out. 2007. p.09.
NASSER, Carlos. Melhores universidades. Gazeta do Povo. Curitiba, 20 nov. 2005. Caderno Brasil, p.22.
SENAPESCHI, Alberto. Ciência, tecnologia e cidadania. In: MARTINS, J.; CASTELLANO, E. (orgs.). Educação para a cidadania. São Carlos: Edufscar, 2003.
VIEIRA, Enio. A semente dos negócios. Revista Indústria Brasileira. Brasília, n.78 A, p.46-47, ago.2007.
*O autor é professor de sociologia na rede particular de ensino no norte do Paraná e mestre em educação pela Universidade Estadual de Maringá.
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