Você está em Artigos

A Inclusão das TICs no Ensino Superior (página 4)


2.3. CAPACITAÇÃO DOS PROFESSORES PARA O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS

A escola, como instituição onde a aquisição de conhecimentos é sistematizada, não sofreu, ao longo dos tempos, transformações radicais quanto à forma como as tecnologias são colocadas à disposição dos alunos. Enquanto a sociedade como um todo criou novas formas, ou mídias, de armazenar e transmitir as informações, a escola, apesar dessas iniciativas, permanecia impassível diante das transformações da realidade que a tecnologia estava e está provocando. Ripper (1996, p.21) assevera que:

A escola, paralisada desde a revolução industrial, não estimula seus interlocutores a utilizarem de forma dinâmica, crítica e criativa os conhecimentos por ela transmitidos. A formação massificada se adapta bem ao modelo produtivo industrial, que requer um grande número de trabalhadores para tarefas rotineiras a serem executadas sem questionamentos e aos serviços feitos pessoa a pessoa. Com a globalização, este modelo de produção, baseado na linha de montagem, está sendo gradualmente abandonado. Um novo modelo de produção requer trabalhadores mais flexíveis, que assumam responsabilidades não só na qualidade das tarefas que executam como no próprio desenvolvimento e melhoria do processo produtivo. Este modelo tem provocado uma demanda radical na escola. A revolução técnico-científica deste fim de século desloca o do poder do capital financeiro para a informação; este passa a ser o capital mais importante: conhecer para ter poder.

O autor acrescenta ainda:

Há um consenso que a tecnologia pode ser um fator importante para essa mudança. Para isto, é necessário que as pessoas aprendam a usar e a dominar a tecnologia de que dispõem e a controlar a velocidade deste processo. Segundo Rygczinsky, para que essa seja dominada, torna-se necessário que a escola repense a sua filosofia e democratize o acesso às tecnologias de ponta. Entretanto, ela pode ser uma faca de dois gumes. Para a solução dessa mudança, atrás de uma aparência de modernidade pode se esconder um ensino massificante. (RIPPER, 1996, p. 23)

Tais premissas se aplicam, obviamente, ao ensino superior. A grande questão tratada é no sentido de buscar meios para aplicar as tecnologias a favor do ensino, tornando-o verdadeiramente mais efetivo e eficaz. Num processo de ensino e aprendizagem humano e estimulante, o professor assume o papel de mediador do conhecimento e, através do uso das TICs, pode e deve orientar seus discentes no sentido de buscar a significância do aprendizado e aplicá-lo em suas vidas.

Muitos estudos têm demonstrado que a utilização das TICs como ferramentas de aprendizado traz uma enorme contribuição para a prática pedagógica em qualquer nível de ensino. Essa utilização apresenta múltiplas possibilidades que poderão ser realizadas, segundo uma determinada concepção de educação que perpassa qualquer atividade escolar.

De acordo com LOING (1998), a introdução das TICs na educação deve ser acompanhada de reflexão sobre a necessidade de uma mudança na concepção da aprendizagem vigente na maioria das instituições de ensino. Tal reflexão deverá propiciar mudanças na própria estrutura, que estimule a iniciativa e a criatividade, preocupando-se menos com o cumprimento do currículo e mais com a aprendizagem significativa. Para tanto, é fundamental preparar os professores para assumir uma nova responsabilidade como mediador deste processo e do desenvolvimento da criatividade dos seus alunos, apoiando-se, como ressaltado anteriormente, nas bases de conhecimento prévio por eles trazidas. Faz-se necessário ressaltar que não se pretende aqui propor o abandono das grades curriculares, mas que estas sejam revistas de modo a adequá-las às reais necessidades dos discentes dentro do contexto das novas práticas pedagógicas, incluindo-se aí o uso das tecnologias. Acerca disso, Gadotti (2007, p. 38) defende que:

As teorias clássicas do currículo separavam os conteúdos do seu processo de construção, transformando a educação num processo de acumulação de pensamentos já pensados. Se uma criança está com dor de dente, a atividade nuclear do currículo deve ser a assistência odontológica. Existem necessidades, interesses, que são anteriores a todos os currículos, à própria alfabetização, que é o acesso à condição humana, em que aprender qualquer coisa é um prolongamento dessa necessidade de ser gente.

Nessa ótica, a tecnologia pode ser uma ferramenta valiosa, facilitando essa intermediação e um atendimento mais individualizado, auxiliando o discente a se apropriar do conhecimento. Este novo modelo de escola requer um novo conceito pedagógico e novas relações de trabalho. Um trabalhador capaz de realizar atividades cooperativas de análise e síntese do conhecimento, com flexibilidade mental, a fim de, a partir deste conhecimento, buscar novas soluções para os problemas encontrados. Dessa forma, os professores assumem o papel central, não de transmissores, mas de mediadores do conhecimento, atribuindo aos discentes uma parte da responsabilidade em seu processo de formação, tornando as TICs poderosas auxiliares dos docentes nesse novo papel.

A grande demanda é: como criar condições para que um professor, acostumado a trabalhar dentro de um modelo que enfatiza a mera transmissão de informações de conteúdo, passe a trabalhar criativamente? Como criar um ambiente que incentive a criatividade do aluno, rico em aprendizagem, mediado pelas novas tecnologias?
É preciso, inicialmente, que o profissional se desarme das antigas amarras e se vista de humildade para se tornar novamente um aprendiz. Trata-se aqui da humanização da prática pedagógica, do pleno conhecimento de que é antiquada a ideia de que depois que se adquire a experiência nada mais cabe ao gesto de aprender. Gadotti (2007, p. 61) ressalta:

Tenho 45 anos de magistério. Parece que já sei o que é ser professor. Mas não é bem assim: precisamos sempre nos interrogar sobre o nosso ofício, sobre a vida profissional do professor. Perguntar-nos sobre a nossa profissão é nos perguntar sobre a aprendizagem de nossos alunos. Devemos nos preocupar permanentemente com a aprendizagem de nossos alunos. E isso depende da resposta que damos ao sentido do nosso ofício.

É necessário, portanto, que o professor abandone sua prática tradicional e dê margens à criatividade em sua prática pedagógica. Ao capacitar-se e abrir-se para novos conhecimentos, ele pode e deve vivenciar as novas práticas ao tentar, errar e tentar de novo. Assim, é imprescindível que a capacitação do docente seja uma verdadeira oficina de aprendizagem, um ambiente rico que incentive a criatividade dos professores aprendizes e não apenas cursos que ofereçam modelos imutáveis de atuação, verdadeiras receitas de atividades.

Não se pode, portanto, capacitar o professor para as novas práticas através de práticas antigas. É suficientemente paradoxal a mera leitura de apostilas sobre o uso de computadores, Internet e outras mídias, quando se pretende proporcionar ao docente o estímulo para que ele reveja as suas práticas de ensino.
 
Para se criar um ambiente construtivista nos ambientes de aprendizagem dos professores, alguns pressupostos devem ser levados em consideração: a primeira exigência é que o ambiente permita uma interação muito grande do professor aprendiz com o objeto de estudo. Essa interação não significa apenas o apertar de teclas ou escolher entre opções de navegação na Internet. Deve passar a integrar o objeto de estudo à realidade do sujeito, dentro de suas condições de forma a estimulá-lo e a desafiá-lo, mas, ao mesmo tempo, permitindo que as novas situações criadas possam ser adaptadas às estruturas cognitivas existentes, propiciando o seu desenvolvimento. A interação deve abranger não apenas o universo do professor aprendiz e sua relação com as TICs, mas, preferencialmente, o professor aprendiz como agente de sua aprendizagem, para que este possa levar esta mesma prática ao seu ambiente de trabalho, ou seja, à sala de aula.

Segundo RIOS e DOS SANTOS (2011, p. 45)

Muitas teorias sobre aprendizagem parecem concordar com o pensamento de que a aprendizagem é um processo de construção de relações, em que o aprendiz, como ser ativo, na interação com o mundo, é o responsável pela direção e significação do que se aprende. O processo de aprendizagem, feitas essas considerações, se daria em virtude do fazer e do refletir sobre o fazer, sendo fundamental no caso do professor aprendiz o "saber", o "saber fazer" e o "saber fazer fazer". Nesta perspectiva, o ensino se esvazia de sentido, dando lugar à ideia de mediação.

Neste contexto, se faz necessário que a ascensão das novas tecnologias nas práticas de ensino não ocorra de maneira isolada. É preciso, acima de tudo, repensar o papel do professor e a restruturação da escola para esta nova realidade. Não se pode mais ignorar as tecnologias de informação e sua influência na vida das pessoas e, ensinar e aprender através destes instrumentos são caminhos diferentes, porém, paralelos, posto que um anda ao lado do outro, inclusive se intercalando.

No entanto, fato é que o crescimento exponencial da Internet e das mídias sociais, tendo em vista sua massiva utilização, leva a prática docente à necessidade de constantes reflexões e adaptações, sob pena de estarmos vivendo uma realidade completamente nova e irreversível e, ao mesmo tempo, estarmos jogando com as regras de antigamente. O aprendizado só tem sentido se for contextualizado e significativo. Para tanto, a necessidade de inserção das TICs no processo educacional é fator primordial e indiscutível.
Anterior   Próxima

Voltar para a primeira página deste artigo

Como referenciar: "A Inclusão das TICs no Ensino Superior" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 18/05/2024 às 14:45. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/ticssuperior/index.php?pagina=3