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Um Olhar sobre a Atuação do Coordenador Pedagógico (página 2)

A Função Do Coordenador Pedagógico: Uma Questão De Identidade

Mudanças notórias têm ocorrido no contexto educacional especificamente no trabalho do coordenador pedagógico, no qual recai uma reflexão crítica sobre a sua identidade, a formação, perspectivas e desafios necessários para a efetivação de uma "práxis" pedagógica comprometida com a construção de conhecimentos e com a formação de um homem comprometido socialmente e politicamente com a formação de uma sociedade mais justa e democrática. Nesse contexto de educar para formação humana o ensinar e o aprender se interligam, conforme explicita Freire:

Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foram assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível - depois, preciso - trabalhar maneira, caminho, métodos de ensinar. (PAULO FRIERE, 1996, p. 26).

Não existe uma receita pronta para trabalhar com as práticas pedagógicas na escola. Somente a busca incessante do conhecimento possibilitará a análise e a reflexão dos problemas existentes no contexto escolar e, que atrelados à convergência dos vários segmentos viabiliza a superação dos conflitos no seio educacional. A reflexão faz parte da atuação  docente, pois nos os profissionais a superar os "achismos" do senso comum em relação aos problemas e desafios vivenciados na escola. Alarcão (2000) argumenta que a reflexão:

[...] baseia-se na vontade, no pensamento, em atitudes de questionamento e curiosidade, na busca da verdade e da justiça. Sendo um processo simultaneamente lógico e psicológico, combina a racionalidade da lógica investigativa com a irracionalidade inerente à intuição e à paixão do sujeito pensante: une cognição e afetividade num ato específico, próprio do ser humano. (ALARCÃO, 2000, p.175).

Esse processo oportuniza estar aprendendo a partir da própria prática. Assim, o desempenho do coordenador pedagógico no espaço educativo opera-se além de uma formação consistente, deve-se, pois, considerar um investimento educativo contínuo e sistemático para que junto com outros profissionais, se desenvolvam capacidades e habilidades múltiplas como exige a educação atual. Nessa condição de uma nova postura educativa, o coordenador pedagógico busca entre outras, acionar novas formas de fundamentar os saberes necessários ao ato educativo, utilizando-se de meios, métodos e técnicas coerentes com sua tarefa. Esse paradigma educacional vê-se contemplado na Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDB 9393/96), artigo 64 que trata da formação necessária dos profissionais da educação para atuação em funções não docentes:

Art. 64 - A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.

É certo que o cotidiano escolar desse profissional é complexo, todavia, essencial, uma vez que busca administrar situações adequadas e satisfatórias a toda comunidade escolar, sobretudo compromissado com a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico.  E às vezes sua formação não é suficiente para capacitá-lo diante dos muitos desafios metodológicos e conceituais que o persegue em seu trabalho escolar.

Na tentativa de responder às demandas atuais no interior da escola, muitas vezes o coordenador pedagógico afasta-se do seu referencial atributivo. Sejam por crenças arraigadas, seja por desorientação ou perda de identidade ele deixa de viabilizar a reflexão sobre suas práticas, perspectivas e intervenção, ações imprescindíveis para o processo ensino- aprendizagem, para a formação do professor e para as metas que a escola se propõe a realizar em determinada situação. A questão da identidade profissional é um processo construído historicamente conforme alerta Marisa Gonçalves (2004, p. 61):

A formação da identidade não é algo estático e que paira acima da vida humana e das condições materiais. Ela se forma dentro de um processo histórico-social, é fundada na relação com outros indivíduos, gerando novas identidades em constante processo de transformação (MARISA GONÇALVES, 2004, p.61).

Nessa direção, observa-se ainda, certa falta de delimitação quanto a sua função propriamente dita, uma vez que se considere a pluralidade de relações e identidades culturais que circulam na escola. Ao assumir o cargo, o coordenador envolve-se em vários contextos marcados pelas diferenças, pelos conflitos culturais, por situações nem sempre previsíveis, que demanda tomada de decisão e encaminhamentos, em que deve se levar em conta a especificidade do momento, do espaço e dos sujeitos envolvidos. Sobrecarregados por essas inúmeras demandas, ele passa a não desempenhar bem seu trabalho, prevalecendo à sensação de incapacidade para cumprir suas tarefas, pois seu trabalho está centrado mais na necessidade do momento do que na reflexão sobre a ação, nos saberes que poderão ser produzidos e realimentados com a prática. Assim vai se caracterizando o papel e o contra-papel do coordenador desvirtuando-se de seu saber, de sua identidade, de rever posições, retomar possíveis conflitos e enfrentar as diferenças.                

A partir de concepções ditadas no interior das escolas, muitos coordenadores passam a incorporar um papel forjado, centrado no amplo quadro de atribuições que ele recebe na escola. Assim, o coordenador pedagógico fica impedido de construir sua identidade e seu papel e, sobretudo, de realizar uma prática voltado o exercício de cidadania de forma democrática e participativa. Nesse sentido Rios (2006), ressalta a importância.

Desta forma, não são mais aceitáveis deixar a segundo plano, o foco de trabalho desse profissional desviando para outras ações, negando-lhe a possibilidade de pensar e fazer diferente as especificidade que justificam e configuram a sua função na escola, conforme destaca a Resolução do Conselho Estadual do Tocantins (CEE/TO), nº. 76/2008 Capítulo III, em seu Artigo 13, dispõe que é o coordenador pedagógico que "... gerencia, coordena e supervisiona todas as atividades relacionadas com o processo de ensino e aprendizagem, visando sempre à permanência do aluno com sucesso na escola". Entende-se que este profissional deve executar sua tarefa essencial e de inegável responsabilidade no processo didático-pedagógico da instituição.

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Como referenciar: "Um Olhar sobre a Atuação do Coordenador Pedagógico " em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 01/05/2024 às 08:46. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/olhar_sobre_atuacao/index.php?pagina=1