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O Importante Papel da Gestão Democrática na Inclusão de Alunos Surdos nas Escolas de Ensino Regular (página 4)


Considerações finais

Ao iniciar esta pesquisa tinha como objetivo observar como os princípios da gestão democrática, atual concepção de gestão ambicionada pelo nosso sistema de ensino, entrelaçavam-se com a perspectiva da educação inclusiva.

No entanto ao entrar em contato com o espaço escolar, no momento da coleta dos dados, percebi que as questões que inquietavam os sujeitos envolvidos na dinâmica escolar vinham de outro lugar. Esses sujeitos encontravam-se envolvidos por muitos questionamentos referentes às reais possibilidades do processo de inclusão.
A maior queixa reside no sentimento de solidão e de despreparo para lidar com as vicissitudes da educação inclusiva. Para tanto alegam ser muito difícil trabalhar na perspectiva da inclusão. Ao longo dessa investigação pude salientar alguns pontos relevantes que merecem maior atenção.

A partir da política de inclusão, as escolas tiveram que se reorganizar para atender um público que divergia dos padrões estabelecidos pelo ensino regular. Essa situação gerou muitos desconfortos no interior das escolas. Diante de tal situação os profissionais da educação não se sentem preparados para trabalhar com essa parcela de alunos.
A inclusão trouxe para dentro dos muros das escolas o conceito de diversidade, quebrando com a ideia de homogeneidade nas classes escolares.

Essas mudanças tiveram reflexos intensos no ideário dos profissionais ligados a educação. A grande maioria não se sente preparada para trabalhar com os alunos com necessidades especiais.

A reivindicação por formação e melhores estruturas é o discurso que ecoa pelos ambientes das escolas. Cabe aqui ressaltar que tais reivindicações são válidas ante o precário sistema educacional brasileiro. Porém, serão esses os únicos entraves os quais a inclusão precisa superar?

Os discursos repetitivos dos envolvidos eram as melhores condições apontam para o fato de que estes não conseguem sair do estado de paralisia gerado pelo confronto com um suposto não saber.

A antiga ideia de salas homogêneas dava ao professor ilusão de domínio no processo de ensino-aprendizagem. O professor era a figura máxima em sala de aula, aquele que possuía o saber necessário para transmitir aos seus alunos. Com a educação inclusiva o professor vê se confrontado constantemente com o não saber fazer, e isto é motivo para gerar angústia no educador.

No caso dos alunos com sudez isso fica ainda mais evidente. Trabalhar com esses alunos faz com que nos deparemos constantemente com a falta, com a nossa falta e com a impossibilidade de controle no processo de aprendizagem.

A saída encontrada pelos sujeitos desta pesquisa, para o fato de não saberem como lidar com esses alunos é a questão social. A socialização foi apontada como principal objetivo na escolarização desses alunos.

Os sentimentos de incapacidade e descredibilidade, diante da inclusão de alunos srdos, revelam por que é muito difícil incluir esses alunos.

Outro ponto importante a ser registrado é que com a nova organização escolar, orientada pelos princípios da gestão democrática, os professores deveriam assumir o papel de gestores educacionais. Isso exige um posicionamento mais participativo nas questões da escola como um todo, e com isso a questão da formação torna-se o eixo central da discussão.

A ação conjunta e participativa reivindicada pela atual gestão educacional poderia servir como um meio de se superar as dificuldades enfrentadas pelas escolas, onde todos seriam responsáveis. Para tanto, percebe-se que a ação participativa está presente nas escolas, porém no sentido de manter um discurso cíclico de impossibilidades. Os profissionais são solidários uns com os outros na afirmação de que "é muito difícil".
Pode-se constatar a partir do que foi levantado nesta pesquisa, que o contexto educacional brasileiro vive um descompasso entre as políticas educacionais e a ação nas escolas. Gostaria de realçar que com este estudo procurei mostrar como as escolas estão enfrentando as mudanças que vêm ocorrendo no contexto educacional, quais seus anseios e suas reivindicações.

Segundo Pereira (2008), os professores, de um modo geral, se vêem desgastados em sua profissão, já que o "mestre", nostalgicamente idealizado de outrora cedeu lugar a um profissional sucumbido a atual massificação tecnológica, a apatia e a violência discente.

Existe um mal-estar instalado nas escolas que se evidencia no posicionamento dos profissionais docentes diante dos percalços diários do ambiente escolar. Estes se encontram desacreditados com sua prática e envoltos por sentimentos de impossibilidade e solidão.

Desse modo, retorno a questão que deu contorno a essa pesquisa, "é difícil, é muito difícil", para atender ao chamado dos professores e dedicar-lhes um lugar de abertura para a exposição de seus anseios.

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Como referenciar: "O Importante Papel da Gestão Democrática na Inclusão de Alunos Surdos nas Escolas de Ensino Regular" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 30/04/2024 às 12:10. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/inclusaosurdos/index.php?pagina=3