Aprendizagem da Língua Escrita na EJA (página 2)
Neste sentido, acreditamos que a escrita é o produto mais desenvolvido da abstração da linguagem, pois não conta com quase nenhum elemento extraverbal (gestos, mímicas, etc.). Surgiu a partir do momento em que as relações sociais de trabalho se tornaram mais complexas, conforme nos fala Ferreiro (2001, p.12): "A invenção da escrita foi histórico de construção de um sistema de representação e não um processo de codificação".
Conforme a autora, o fato de não entender ou investigar o que os alunos pensam sobre a escrita pode ser um fator que dificulta a aquisição desta habilidade.
Através de investigação podemos ver os problemas cognitivos que possam estar dificultando a aprendizagem da língua escrita. É preciso também que o educando atribua significação ao que está construindo e conhecendo a função social da escrita.
Portanto, a aquisição da escrita não é um produto puramente escolar, mas o resultado de um longo processo apropriativo e construtivo por parte do indivíduo. Aprender a língua escrita é construir estruturas de pensamentos capazes de abstrações cada vez mais elaboradas.
As questões sobre o ensino e aprendizagem da língua portuguesa parecem ser um assunto em evidência. Pesquisar, refletir e buscar entender o processo pelo qual se desenvolve a alfabetização vem sendo uma atividade constante entre pesquisadores, pedagogos, psicólogos, etc. Essas investigações vem priorizando sobretudo os progressos teóricos e metodológicos sofridos pelo fenômeno do saber ler e escrever.
O conceito de alfabetização vem sendo questionado e analisado nos últimos tempos. As modificações ocorrem em função da necessidade que a sociedade impõe aos sujeitos sobre o domínio da leitura e da escrita. Isso vem a questionar se um indivíduo é ou não alfabetizado, ampliando esse adjetivo para pessoa que é capaz de transgredir a capacidade de codificar e decodificar.
Conhecer é sempre uma ação que demanda esquemas de assimilação, num processo constante de reorganização que é fruto da atividade daquele que interage com o mundo, como é o caso do aluno da Educação de Jovens e Adultos, com suas dificuldades e limitações.
Percebemos que o alfabetizado vai compreendendo o processo da escrita fazendo-se muitas perguntas: O que a gente escreve? Como escrever uma palavra, uma ideia, pensamento, ou mesmo uma história inteira? Quais são as letras e como juntá-las para escrever? Ele vai buscando respostas para estas perguntas enquanto escreve e, assim, vai passando por etapas no conhecimento da escrita.
Do ato de ensinar, o processo desloca-se para o ato de aprender. O educando passa a ser visto como um agente, e não como um ser passivo que apenas recebe e absorve o que lhe é ensinado.
A descrição de um trabalho de pesquisa como um relato de nossas experiências de vida é sempre um processo muito difícil que requer reflexão, habilidade na descrição e clareza, de tal forma que permita expressar em palavras, acontecimentos, comportamentos, processos sociais e contextos com vivências e experiências dos sujeitos, que Ferreira (2001, p.300) define como etnografia, que significa "estudo descritivo de um ou mais aspectos sociais e culturais de um povo, grupo social". Ou seja, é a descrição de determinados aspectos da cultura sem que se faça juízo de valor.
Nós, como professores e pesquisadores, lidamos com uma modalidade de pesquisa em que vemos diferentes formas de compreensão do senso comum, significados variados atribuídos pelos participantes às suas experiências e vivências. Tentaremos mostrar aqui esses significados múltiplos.