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Crianças Vítimas de Abuso Sexual: da Prevenção ao Assistencialismo (página 4)


3.2 A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A INCLUSÃO

Ao que se refere à educação especial, em inclusão, não se deve deixar de questionar sobre a formação dos docentes no atendimento aos alunos deste perfil. Mesmo com todas as discussões sobre este assunto, ainda possuem uma formação inadequada, ambígua e defasada.
    
Baseados na LDB pode-se afirmar que é de suma importância e de grande necessidade o envolvimento de uma equipe especializada, e que sejam oferecidos meios para constante capacitação, para que alcancemos acessibilidade e qualidade na modalidade da educação inclusiva.
    
Consta ainda na LDB (BRASIL, 1996), em no seu artigo 59, parágrafo I:
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.

Neste sentido, a valorização e formação do corpo docente ativo e empenhado na inclusão escolar importa também que esta condição exige uma dedicação e extremo comprometimento com o outro, resultando em um aprendizado continuado e valorização de conceitos.

A única forma de se proporcionar inclusão é disponibilizando material didático e humano dedicado e capacitado para este fim, explicando, fazendo palestras, mostrando para a sociedade que os alunos, sejam eles alunos com alguma necessidade educacional ou não, têm os mesmos direitos, a estudar, a se alfabetizar, a ter acesso, ao direito de se ter profissionais capacitados para atendê-las.
A aplicação e o aperfeiçoamento da legislação são decisivos, porém insuficientes. Os direitos culturais e a criminalização da discriminação atendem aspectos referentes à proteção de pessoas e grupos pertencentes às minorias étnicas e culturais. Para contribuir nesse processo de superação da discriminação e de construção de uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo há de tratar do campo social, voltados para a formação de novos comportamentos, novos vínculos, em relação àqueles que historicamente foram alvos de injustiças, que se manifestam no cotidiano (BRASIL, 1997, página. 21).
Diante do excerto, vimos que ainda que existam leis que garantam os direitos das pessoas com necessidades especiais, estas não são suficientes, acarretando em muitos professores da rede pública, como também em uma grande parcela da sociedade, que se posicionem contra a inclusão nas salas de aula, e não por preconceito ou insensibilidade, mas sim por terem consciência do não preparo para receber estes alunos, da falta de informações, de apoio técnico e também devido às estruturas precárias.
    
Outro fator são os currículos, enquanto não estiverem adequados para atender esta demanda, apenas as garantias legais serão insuficientes.

Com relação aos direitos dos alunos e às legislações muito já avançamos, todavia ainda precisamos avançar na formação dos docentes, para que possam atender a esta demanda oferecendo uma educação de qualidade a todos os envolvidos no processo do conhecimento.
No entanto, a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em classes comuns do ensino regular, requer uma atenção especial, uma vez que o desenvolvimento efetivo destes alunos deve ser assegurado, através de procedimentos pedagógicos adequados que garantam e propiciem a sua aprendizagem. Tais procedimentos diferenciados incluem desde a estimulação intensiva, métodos e técnicas, recursos materiais, adaptações curriculares e, quando necessário, até adaptações arquitetônicas nos prédios escolares para receber e possibilitar o convívio entre todos os alunos. Todas essas adaptações visam garantir o princípio de igualdade de oportunidades, sem as quais o direito garantido em lei não se viabiliza no cotidiano escolar (POKER, 2002, p. 236).
É necessário investir na formação inicial dos professores, para que estes sejam capazes de ofertar um ensino baseado nas diferenças sociais, culturais e pessoais existentes, capacitados para atender de forma abrangente a diversidade educacional presente nas escolas atuais.

De acordo com Mittler (2003, p. 20):
A inclusão depende do trabalho cotidiano dos professores na sala de aula e do seu sucesso em garantir que todas as crianças possam participar de cada ala e da vida da escola como um todo. Os professores por sua vez, necessitam trabalhar em escolas que sejam planejadas e administradas de acordo comas linhas inclusivas e que sejam apoiadas pelos governantes, pela comunidade local, pelas autoridades educacionais locais e acima de tudo pelos pais. (Mittler, 2003, p. 20):
A este respeito, Silva (2003), baseada em um estudo realizado sobre inclusão escolar, também nos traz alguns pontos importantes sobre as condições fundamentais a serem exercidas pelos professores para uma efetiva inclusão, são alguns deles:
1.    N M o desenvolvimento escolar dos alunos;
2.    Aperfeiçoar os conceitos sobre planificação;
3.    Aprofundar os conhecimentos sobre métodos e técnicas de avaliação;
4.    Dominar métodos e técnicas especiais de leitura e de escrita.
5.    Ser capaz de adaptar diferentes atividades de acordo com o ritmo, desenvolvimento e dificuldades apresentadas pelos alunos (SILVA, 2003, p. 21).
Para que o professor consiga executar as atividades acima descritas, é preciso que ele esteja preparado para isto, que sua formação seja adequada e que esteja apto a lidar com as diferenças existentes nas salas de aula.

Rinaldi, Reali e Costa (2001 apud DENARI, 2007) nos dizem que a construção de ambientes educativos capazes de possibilitar processo de ensino-aprendizagem adequado a todos os alunos, depende da qualidade da prática pedagógica dos docentes.

Neste momento de reflexão em torno da produção deste artigo, foi imprescindível retomarmos a questão central formulada como nosso objeto de pesquisa: a compreensão da realidade educacional atual, as condições de inclusão de alunos com necessidades especiais, assunto vastamente discutido e causador de grandes polêmicas. bservamos que já houve passos importantes rumo à efetivação da inclusão. Todavia, em nossos estudos evidenciou-se que muito ainda há de ser feito com relação a preparação das escolas e da formação dos profissionais que atuam com a inclusão.

Percebemos que os professores são "peças-chave" para uma real inclusão dos alunos com necessidades especiais no ensino regular, mas com este trabalho podemos perceber que, sozinhos, eles não são capazes de realizar todas as mudanças necessárias neste cenário.

É necessário que sejam a eles direcionadas políticas de constantes capacitações e o auxilio de apoio técnico, para que a escola deixe de ser um espaço que ainda privilegie a exclusão, ainda que de uma forma mascarada, pois não adianta apenas incluir estes alunos no ensino regular, cumprindo assim o que pede as legislações vigentes. É preciso que de fato este ensino possa favorecer a todos os envolvidos, capacitando estes alunos para a vida em sociedade e que todos sejam capazes de reter os conhecimentos repassados. Porém, não é esta a realidade que encontramos na maioria das escolas.

Dessa forma, este trabalho buscou contribuir para um melhor entendimento da inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais, considerando que ainda se trata de condições ainda muito notadas, porém pouco compreendidas.

Espera-se que esse trabalho possa ser um referencial para outras pesquisas, considerando que a temática não se esgota aqui e ainda há muito que se fazer em relação a inclusão para que deixe de ser notada apenas como um improviso.

REFERÊNCIAS

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______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1998. Vol. 1.

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RINALDI; REALI; COSTA (2001). In: DENARI. A escola perante as diferenças: um olhar sobre  a formação do professor. Perspectivas Multidisciplinares em Educação Especial II, Londrina: Ed. UEL, 2007.

RODRIGUES, D. (org.). A educação e a diferença. Porto: Porto Editora, 2001.

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SILVA, M. O. E. A análise de necessidades na formação contínua de professor: Um contributo para a integração e inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais no ensino regular. São Paulo: AVERCAMP, 2003.
    
UNESCO. Declaração de Salamanca: princípios, políticas e prática em educação especial (1994). Disponível em: <http://www.regra.com.br/educadores/salanc.htm>. Acesso em: 14 abr. 2014.

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Como referenciar: "Crianças Vítimas de Abuso Sexual: da Prevenção ao Assistencialismo" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 27/04/2024 às 04:09. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/criancasvitimas/index.php?pagina=3