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A Formação de Educadores para Atuarem na Educação Escolar de Jovens e Adultos (página 2)

3. A disciplina EJA e suas contribuições para a formação de professores

No projeto pedagógico do curso de pedagogia que foi foco desta pesquisa, define que o egresso, entre outras modalidades, o discente deve estar capacitado para "atuar com jovens e adultos defasados em seu processo de escolarização..." (p. 12 do projeto pedagógico). 

Segundo a professora entrevistada, no processo de elaboração deste projeto, todas as disciplinas do curso deveriam abordar a EJA, uma vez que ela é prevista em todas as ementas. No entanto, conforme esta mesma professora, isto não é efetivado. Os estudos específicos para EJA quase que se limitam a disciplina específica para isto, que acontece apenas no quarto ano do curso de pedagogia, com duração de noventa horas:

"...Se você pegar todas as ementas das disciplinas, todas, falam que os professores deviam atuar em EJA, mas a gente sabe  que o EJA fica em segundo plano, os meninos do curso de pedagogia vão ver EJA somente  no quarto ano, uma disciplina de 90 horas..." (fala da professora da disciplina, 2015)

Conforme a ficha desta disciplina, sua ementa propõe analisar a educação de adultos em suas diferentes abordagens: educação popular, educação supletiva, educação permanente e terceira idade, enfocando e dando ênfase a aprendizagem e saberes dos adultos. Críticas e perspectivas atuais das propostas, projetos e campanhas de alfabetização. Análise das metodologias utilizadas na alfabetização e educação de jovens e adultos, com objetivo de refletir sobre as questões do analfabetismo e alfabetismo, compreender as bases políticas, filosóficas e metodológicas das propostas, projetos e campanhas de alfabetização e de educação de jovens e adultos (texto extraído da ficha de disciplina de educação de jovens e adultos, não mencionado nas referências para resguardar o anonimato do curso).

A existência desta disciplina na grade curricular do curso de pedagogia a partir de 2005, foi uma importante conquista, conforme a professora por ela responsável:

... curso de pedagogia já conquistou noventa horas na grade como exigência pra formar, por que antes o EJA era optativo, pouquíssimos alunos faziam. Eu fiz pedagogia na UFU, não tinha nem como optativo, depois nos anos 90 ela entra como optativa e  depois com a reformulação, de 2005 ela passa a ser obrigatória... (professora da disciplina EJA do curso de pedagogia de uma universidade federal entrevistada em janeiro de 2015)

A professora destaca ainda  a importância de se discutir a EJA durante o curso porque

... é muito diferente alfabetizar crianças e alfabetizar adultos, as metodologias o jeito de pensar do adulto é muito diferente da criança, o adulto é um ser humano muito semelhante ao do professor, então precisa haver respeito, compreensão, de problemas atuais que o aluno está vivendo e a criança, ela está em desenvolvimento, então é muito diferente, ela está aprendendo o mundo, enquanto o adulto já viveu, ele é produto do mundo, ele produz o mundo,... (professora entrevistada, 2015)

Apesar destas conquistas e da percepção da importância de se estudar a EJA no curso de pedagogia, tanto as graduandas entrevistas quanto a professora apontam que ainda há limitações que precisam ser enfrentadas.

4. Os limites da formação inicial para atuar na EJA

As informações obtidos na Revista Nova Escola vem de encontro com as afirmações das alunas e a professora do curso de pedagogia pesquisado, o qual aponta que a formação continuada é imprescindível. A docente entrevistada diz que "...em se tratando de formação de professores de EJA o curso de pedagogia deixa a desejar muito, porque o foco dele é voltado para a infância, e para  a criança."

As alunas também concordam com a professora, que elas não saem do curso preparadas para atuarem na EJA.

...uma dificuldade, porque a pessoa não sai daqui preparada totalmente, porque é muito rápido o ensino, então ela vai ter que procurar outro curso de especialização e no inicio com certeza vai sofrer... (fala de uma graduanda entrevistada, 2014)

A professora destaca que apenas noventa horas da disciplina é insuficiente para que essas alunas saem do curso preparadas para atuarem na EJA, e afirma que:

...é uma disciplina de 90 horas para um curso de 4 anos.. é muito pouco para que agente precisa fazer, então  se a gente for pensar que dentro da disciplina teríamos que conhecer quem são os alunos de EJA, quais as metodologias pra EJA, qual o currículo pra EJA, quais os teóricos que nos ajudam a pensar EJA e quais as escolas poderíamos conversar com os professores pra saber as práticas de EJA... (professora entrevistada, 2015)

As discentes declaram na entrevista que o estágio é feito apenas no ensino fundamental, que não tem um contato direto com a EJA, que há falta de vínculo entre teoria e estágio. A professora demonstra essa preocupação em relação ao estágio onde diz em entrevista que

...o estágio por exemplo, a minha esperança era... já conversamos isso na faculdade, varias vezes é que o professor de EJA também fosse professor de estágio, de educação infantil, o professor de alfabetização fosse professor de estagio de alfabetização, a gente casar isso, sabe? Pra garantir que os meninos vissem a parte teoria e a parte pratica só que  não conseguimos fazer isso, o estagio é completamente separado da teoria da EJA... (professora entrevistada, 2015)

Para Freire (1996), deve haver relação da teoria e prática, para que a teoria não se torne algo sem sentido para o aluno. A falta do entrosamento da prática e a teoria pode ser um dos problemas do despreparo dos profissionais para atuarem na educação de jovens e adultos.

No entanto, a professora não vê limitações do curso apenas em relação a formação para EJA, mas também  nas metodologias, currículo da disciplina. A esse respeito a professora declara:

...então temos aí campos, pouquíssimos explorados, porque uma disciplina só não dá conta e na disciplina de EJA, a gente tenta mapear um pouco disso tudo, os meninos saem com uma visão sobre onde eles poderiam buscar subsídios mas eles não saem totalmente preparados para atuar na EJA. É ... o que vai fazer você ser um bom professor de EJA é continuar estudando, continuar pesquisando, conhecer o campo, conhecer metodologias... (professora entrevistada, janeiro 2015)


As próprias políticas públicas não têm priorizado a EJA como modalidade de ensino.  Segundo a professora a prefeitura onde se encontra a universidade pesquisada, ainda está aprovando as propostas, no entanto, não tem essa modalidade no sistema municipal de ensino, ela é apenas um projeto, e isso dificulta o acesso das universitárias no estágio que deveria ser oferecido por este sistema. 

No entanto, mesmo sanado estas limitações, a formação continuada das professoras em serviço não pode ser desconsiderada. É o que discutiremos no próximo item.

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Como referenciar: "A Formação de Educadores para Atuarem na Educação Escolar de Jovens e Adultos" em Só Pedagogia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 25/04/2024 às 13:35. Disponível na Internet em http://www.pedagogia.com.br/artigos/a_formacao_de_educadores/index.php?pagina=1